O Carnaval

O Carnaval de Canas de Senhorim é singular por vários motivos. Assim que começa o ano começam também os preparativos para aqueles que são os três dias mais importantes da Freguesia que em tempo de Entrudo abre as portas às terras vizinhas, aos amigos e familiares que há muito reservaram esses dias para regressar e se juntar a esta festa que sempre os entusiasma. O que marca a diferença no Carnaval de Canas de Senhorim é a existência de dois bairros: Paço e Rossio (por ordem alfabética, porque não convém colocar um bairro à frente do outro até mesmo em textos).

© Fotografia de Fernando Cruz.

Em Canas de Senhorim o carnaval não são só três dias, é uma vida inteira numa saudável rivalidade entre os dois bairros mas também em muito trabalho e lazer feito em comum. Ao longo de dois meses, tanto um bairro como o outro, trancam as portas da sua sede e o guardar segredo passa a ser a lei seguir, preparam-se carros alegóricos, disfarces e diversões num sigilo sagrado só revelado no Domingo Gordo quando os dois corsos se cruzam pela primeira vez.

© Fotografia de Pedro Ferreira.

Mas antes da marcha sair para a rua, nos dois meses que antecedem esse momento, os canenses trocam impressões e provocações dando vida a uma tradição já centenária vincada por muitos costumes carnavalescos. O mais eloquente são os “Pisões” onde um grupo de amigos, aqui não importa o bairro, atam uma pedra embrulhada num jornal à maçaneta de uma porta e só param de puxar e provocar quando o dono vem à rua. Há também a panelada onde se parte uma panela de barro cheia de cinza ou farinha na casa de quem se quer “incomodar”. Estas duas práticas são sempre noturnas e acompanhadas por gritos e comentários jocosos.

© Fotografia de Nuno Brito.

A tarde de Domingo assinala o primeiro desfile e a revelação do trabalho feito em segredo, Paço e Rossio passeiam pelas ruas de Canas de Senhorim com as suas marchas ao som de música original e de traço bairrista. Segunda feira é Dia das Velhas. Mais uma vez Paço e Rossio confrontam-se em corsos de improviso e critica ao desfile do dia anterior. Quando o dia do Entrudo chega já cheira a despedida. Depois de mais um desfile em separado o Rossio instala-se no centro da Vila e espera pelo Paço para o derradeiro despique. O som amplificado desliga-se e o coro dos foliões junta-se a cada uma das bandas para ver quem canta mais alto e quem é mais aguerrido em defesa do seu Bairro. Cai a noite em mais um Carnaval bem passado, com a certeza que o nosso Bairro ganhou.

© Fotografia de Fernando Cruz.